Bienal do Rio 2017 – Revisão de apoio do livro “Rio para Não Chorar”, de Marcio Sampaio

Revisar o livro da Isabel me fez relembrar do meu primeiríssimo trabalho de revisão literária: minha participação na equipe de revisão de apoio da obra Rio para Não Chorar, do autor Marcio Sampaio. Assim que entrei para a graduação em Letras: Português-Inglês em 2015, comecei a fazer trabalhos freelancers de tradução e revisão de textos diversos. Me candidatei para essa proposta de trabalho de revisão de apoio em 2016, na qual minha tarefa era ler o livro e identificar, como carioca e moradora da cidade do Rio de Janeiro, os locais mencionados na história e relacioná-los com o tempo histórico no qual a narrativa acontece. Fui não só chamada para participar da equipe como também, em 2017, representei o autor na Bienal do Rio no estande da Chiado Editora por precisar estar ausente do evento para o lançamento do seu livro em sua cidade natal. Rio para Não Chorar é um livro que se passa no Rio de Janeiro de 1980-90 com uma história social sensível e tocante do menino Tomaz, desde sua terna infância à idade adulta. Foi uma experiência e tanto! Recordando, não pude deixar de compartilhar essa bela memória por aqui. Adquira aqui o e-book Adquira aqui o livro físico

Sobre a visibilidade das escritoras negras + Resenha do livro “O que é lugar de fala?” de Djamila Ribeiro

©Todos os direitos reservados Novembro mal começou e parte dos algoritmos na internet já se “mobilizaram” para aumentar a visibilidade de diversos criadores de conteúdo que falam sobre racismo e negritude. Pena que esse empenho só acontece uma vez por ano. Vendo os anúncios, em especial de escritores e artistas, comecei a me perguntar quantos autores negros tenho na minha estante de livros e, mais ainda, quantas autoras negras. Para minha vergonha, não tantas quanto deveria — e será que estou sozinha nessa? Apesar de ser brasileira e do meu país ter uma maioria da população negra, percebo que nos livros e nas artes esse grupo ainda é uma minoria, talvez nem tanto de produção, mas com certeza de alcance e divulgação. Isso me lembra uma professora de teoria literária que tive na faculdade contando sua experiência durante a palestra da famosa ativista negra estadounidense Angela Davis no Brasil. Minha professora, assim como várias outras pessoas que foram empolgadas para ouvir a palestra de Angela Davis na conferência “A Liberdade é uma Luta Constante”, não esperava que Angela exaltasse uma ativista e intelectual brasileira ao dizer “Eu acho que aprendi mais com Lélia Gonzalez do que vocês jamais aprenderão comigo” (tempo do vídeo: 51:40). Angela não entendia porquê nós no Brasil buscávamos referências negras fora do Brasil, se ela própria tinha como referência uma brasileira. E de fato buscar fora do país estudos que expliquem o nosso país e nossas questões melhor do que nossos intelectuais é, no mínimo, curioso. São muitas as vertentes que esse questionamento pode apresentar, mas me atenho aqui à visibilidade — ou falta de — que muitos estudiosos, artistas, criadores, escritores negros possuem em nosso país. Quando pensamos nas mulheres negras, menos ainda. Atualmente temos a Carolina Maria de Jesus, que foi “redescoberta” como escritora quase 50 anos depois de sua morte. Quando pensamos em como essas e outras escritoras, artistas e intelectuais negras conseguem visibilidade, não há como negar a importância que ainda tem a validação de uma elite intelectual qualquer ou a existência de um espaço de alcance democrático. Mesmo com algumas limitações e controvérsias, a internet cumpre esse papel de espaço democrático que, apesar do alcance dos algoritmos, ainda permite aos usuários existir e resistir no compartilhamento de artes e ideias. Olhando cuidadosamente minha estante de livros, encontrei um que acredito explicar de forma bem didática alguns processos de visibilidade, em especial da mulher negra, é O Que É Lugar De Fala, da filósofa e ativista brasileira Djamila Ribeiro. Cheguei a escrever uma breve resenha dele ano passado para minha página pessoal do Instagram e decidi compartilhar novamente esse ano, dessa vez no espaço do Feminário, que existe e resiste como um espaço virtual para mulherências diversas. RESENHA: O QUE É LUGAR DE FALA?, DE DJAMILA RIBEIRO Existe um termo que tem sido muito usado atualmente que é “Lugar de Fala”. Porém, seu significado muitas vezes é mal interpretado e utilizado como desculpa para pessoas optarem pelo silêncio por julgarem não ter “lugar de fala” sobre determinado tema ou realidade. O Que É Lugar De Fala? é um livro em formato de bolso, de 111 páginas e dividido em 4 capítulos + Apresentação e Notas. Possui diversas referências teóricas citadas de forma muito didática e bem explicada. O livro aborda principalmente a questão do feminismo negro e a predominância do saber acadêmico eurocêntrico e utiliza esses temas para desdobrar o significado e uso do termo “Lugar de Fala”.  O que Djamila Ribeiro, filósofa e intelectual do feminismo negro brasileiro, vem nos mostrar com esse livro, ao explicar o termo que ela própria difundiu no Brasil, é que todos têm lugar de fala. Lugar de fala é de onde você vê determinada realidade, diferente de protagonismo, que é você viver determinada realidade. A consciência de que todos temos um ponto de onde observamos diversas situações é essencial para entendermos nossa força de ação sobre ela, mas nem todos enxergam a influência que têm seus lugares. Uma citação de Lélia Gonzalez abre o livro de Djamila e convida o(a) leitor(a) para uma viagem pela história da luta das mulheres negras desde o início do movimento feminista ao surgimento do feminismo negro, seguindo para explicações do termo “Lugar de Fala” e suas formas de uso. Acredito que esse livro seja uma leitura essencial para quem já faz muito uso do termo, sabendo pouco ou muito sobre ele. Mas para quem não tem familiaridade com o assunto e busca uma forma didática, simples e ao mesmo tempo completa para um primeiro contato com o conceito, esse também é um excelente livro! *Texto originalmente publicado em https://feminarioconexoes.blogspot.com/2022/11/linguagem-do-batom-vermelho-por.html . Todos os direitos reservados.

Resenha em vídeo: Das Tarefas Domésticas, de Paula Quintão

Nesse livro, Paula nos apresenta o invisível por trás do invisível, ou como ela diz “o rio que corre embaixo do rio” das tarefas domésticas. Muitas vezes invisibilizadas e até rejeitadas por outras mulheres, as tarefas domésticas são pilares que nos possibilitam manter certa ordem dentro e fora de nós, além de nos abrir para uma conexão mais sutil com a ancestralidade das mulheres da nossa família. Ao enxergarmos a importância dessas tarefas, também enxergamos a importância dessas mulheres e trazemos suas memórias para perto de nós, dentro de nós. É a casa como um lugar sagrado, o sagrado no dia a dia, nos pequenos detalhes — porém não tão pequenos — do nosso interior que permite nosso exterior existir. Acompanhe Paula Quintão: Instagram Site YouTube

Resenha: Organize-se num Minuto, de Donna Smallin

Como já é comum por aqui, gosto de iniciar o ano com alguma resenha que fale sobre organização e para iniciar 2023 escolhi o livro Organize-se num Minuto, de Donna Smallin (tradução de Maria Alayde Carvalho). Organize-se num Minuto é um livro simples composto por 500 dicas práticas de organização divididas em duas partes: Como se organizar e Como se manter organizado. As dicas de organização abordam diversas áreas da vida — de gestão de tempo, passando por organização financeira, organização da casa, escritório e outros — e podem ser colocadas em prática imediatamente após a leitura da dica. Por ser um livro mais para consulta do que para leitura corrida, você pode pegar para ler quando quiser e apenas a parte necessária no momento, mas também pode ler ele todo em poucas horas. O design é colorido e com algumas ilustrações, a linguagem é simples e bem humorada. Indico esse livro a todos que querem começar 2023 com a vida mais organizada. Um feliz 2023 a todos!

Resenha: “De Repente, Natal”, de Luana Schrader

Em De repente, Natal, Luana Schrader — autora dos romances Serendipity e Fios do Destino — estreia com sua primeira coletânea de contos natalinos, trazendo para o leitor um pouco da atmosfera mágica do natal em quatro histórias de contextos e personagens distintos. No conto Chalé para dois, a autora apresenta a história dos colegas de escritório Melanie Abrams e Ethan Archibald, dois personagens avessos ao natal e que não se dão muito bem. No entanto, ao se verem forçados a compartilhar a companhia um do outro desde o voo para fugirem do natal de Noa Iorque até a estadia dos chalés de inverno, descobrem que podem apreciar a companhia um do outro muito mais do que imaginavam. Em Surpresa de Natal, Olive encontra um filhote de cachorro abandonado amarrado em um poste numa bela e fria manhã londrina enquanto estava presa em um engarrafamento. Ao socorrê-lo, encontra Henry, um veterinário que também iria socorrer o animalzinho. Ao ver que Olive iria adotá-lo, Henry se oferece para examiná-lo o quanto antes e ambos descobrem que podem ter muito mais coisas em comum além do seu amor pelos animais. Entre cigarros e croissants, um beijo de Natal conta a história da portuguesa Catarina que decide tirar umas férias da sua vida indo passar o natal sozinha em Paris. Desde seu desembarque, seus caminhos têm cruzado com os do francês Gustave, que mora em Lyon e estava apenas de passagem por Paris. Dois desconhecidos que sabiam pouco mais do que os nomes um do outro, mas decidiram dar uma chance ao destino e às surpresas do natal parisiense, mesmo que a magia não dure para sempre. Por fim, Um presente de Natal apresenta a história de Sofia que, após o difícil fim de um longo relacionamento amoroso, é premiada com uma viajem à cidade de Gramado com tudo pago no estilo da Fantástica Fábrica de Chocolate. Durante a viagem ela conhece Odete, que com sua história de vida irá transformar magicamente o rumo da vida de Sofia. São histórias ao mesmo tempo mágicas e humanas. Quatro contos curtos de leitura leve e fluida que nos mostram, acima de tudo, que a magia do natal está dentro de nós, apenas precisamos nos permitir vivê-la. Indico esse livro para todos que gostam de histórias natalinas e querem se sentir ainda mais envolvidos por essa atmosfera nesse final de ano. Clique aqui para conhecer e adquirir os livros da autora

Resenha: Assim falou Zaratustra, de Friedrich Nietzche

Em Assim falou Zaratustra, Friedrich Nietzche (1884-1900) apresenta o sábio Zaratustra como personagem questionador do moralismo religioso cristão de sua época. Fora da obra de Nietzche, Zaratustra foi um profeta persa da era pré-cristã e fundador do Zoroastrismo, religião da antiga Pérsia primitiva que é semelhante ao cristianismo em muitos aspectos. O autor faz uso dessa figura para apresentar o Super-Homem, uma versão superada do homem mundano. No livro, Zaratustra é o personagem principal que narra toda a história de sua caminhada e seus diálogos com discípulos, sábios, a natureza e consigo mesmo. Este é o famoso livro em que Nietzche diz “Deus está morto”, no entanto, as críticas maiores do autor são à cegueira dos “sábios catedráticos” para a dimensão humana. É como se ele tentasse combater o extremo do misticismo com o extremo do materialismo. Nesse contexto, a figura do Super-Homem pode ser entendida como o homem-humano superando a si mesmo e, nesse caso, qualquer um pode ser um Super-Homem, embora seja doloroso e trabalhoso chegar a essa transformação final. Zaratustra não se afirma como O Super-Homem, mas afirma ser conhecedor do caminho para essa transformação. O Super-Homem é apresentado como uma nova alternativa a “salvação” do homem de si mesmo, mas ao invés de ser outro a salvar o homem, é o homem que salvando a si mesmo transforma-se em Super-Homem. É interessante também fazer uma relação entre os animais que aparecem na história e os animais-totem das religiões da antiga Pérsia. Na história, vários animais aparecem com significado simbólico, inclusive tem até um capítulo no qual Zaratustra conversa com os animais. Essa relação entre o homem e a natureza é uma forma de ligar o homem à sua natureza animal que, por mais que seja suprimida ou negada, sempre estará presente. No entanto, Zaratustra aponta uma hierarquia na qual o animal é a fase baixa ou bruta, o ser humano é uma fase de transição e o Super-Homem a transformação final. No misticismo, o que o personagem de Zaratustra mais critica é a postura hipócrita dos sábios, seus “valores e palavras ilusórias”. Para ele, a negação da animalidade humana é uma ideia absurda, até porque ao negá-la não é possível superá-la. O Super-Homem só supera sua animalidade porque a reconhece. O ponto mais controversos que encontrei na obra foram as visões machistas sobre a mulher, que é colocada como inferior ao homem-humano em diversas passagens. Embora isso seja esperado dos intelectuais de sua época, é algo que ao lermos nos dias de hoje torna essas passagens desagradáveis. O pessimismo de Nietzche aparece em algumas partes da obra como já é esperado, no entanto, as passagens nas quais o autor apresenta os argumentos de Zaratustra a favor do Super-Homem são muito interessantes de se refletir. Ao colocar o homem como o responsável por sua própria dor e cura e ressaltar os processos de transformação que levam o homem ao Super-Homem é quase impossível não refletirmos sobre nós mesmos e nossa responsabilidade sobre nossas “animalidades” e transformações. Acredito que a parte mais importante e interessante sobre o processo de transformação do homem para o Super-Homem é a capacidade de criação. Ao narrar sua trajetória de iluminação e os requisitos para o “nascimento” do Super-Homem, o personagem ressalta a necessidade de uma capacidade e vontade de criar, e como a criação é resultado de dores e destruições, é necessário que o homem conheça essas dores para criar o Super-Homem a partir delas. Assim falou Zaratustra é um livro denso que traz inúmeras reflexões e possíveis interpretações que deixariam essa resenha bem extensa. A intenção no momento é apenas instigar a curiosidade para que o leitor da resenha leia a obra de forma despretensiosa. Há certa liberdade em ler um livro desses sem tanta bagagem teórica por trás, pois com o olhar não treinado é possível enxergar múltiplos significados e interpretações para cada metáfora apresentada. Mas para quem tem essa bagagem, seria interessante se dar a chance de ler com olhos de leitor e não de teórico, se permitindo encontrar novas interpretações. “Criar é a grande emancipação da dor e do alívio da vida, mas para o criador existir são necessárias muitas dores e transformações.” — F. Nietzche em Assim falou Zaratustra

Mês das Mulheres – Livros que me marcaram como Mulher

©Todos os direitos reservados Parafraseando bell hooks, a teoria também pode ser um lugar de cura ❤️‍🩹📕 Aproveitando o mês da Mulher, vim neste curto vídeo falar um pouco sobre duas obras que foram/são um grande marco na minha caminhada de entendimento do Ser Mulher, em especial na sociedade ocidental. 📚O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir 📚Mulheres que Correm com Lobos, de Clarissa Pinkola Estés