Resenha em vídeo: Das Tarefas Domésticas, de Paula Quintão

Nesse livro, Paula nos apresenta o invisível por trás do invisível, ou como ela diz “o rio que corre embaixo do rio” das tarefas domésticas. Muitas vezes invisibilizadas e até rejeitadas por outras mulheres, as tarefas domésticas são pilares que nos possibilitam manter certa ordem dentro e fora de nós, além de nos abrir para uma conexão mais sutil com a ancestralidade das mulheres da nossa família. Ao enxergarmos a importância dessas tarefas, também enxergamos a importância dessas mulheres e trazemos suas memórias para perto de nós, dentro de nós. É a casa como um lugar sagrado, o sagrado no dia a dia, nos pequenos detalhes — porém não tão pequenos — do nosso interior que permite nosso exterior existir. Acompanhe Paula Quintão: Instagram Site YouTube

Resenha: Todos os versos que plantei para te ver florir, de Maria Clara

Em Todos os versos que plantei para te ver florir, Maria Clara ressignifica diversas palavras como verbetes de seu dicionário particular de forma leve e poética. Com palavras que permeiam o cotidiano, além de um traço de brasilidade e carioquice, Clara passa ao leitor a beleza dos detalhes escondidos entre um café corrido e o ponto de ônibus, entre o dormir olhando as estrelas e acordar com o sol iluminando o rosto. E nada melhor do que poesia para ressaltar o belo que está escondido nos simples detalhes. Cada página contém uma palavra que é ressignificada pelo olhar da autora, e juntas contam pequenas histórias que, não raro, passam ou já passaram pelo nosso olhar corrido e desatento aos pequenos momentos. Apesar de não ser explicitamente dividido, os 3 primeiros verbetes ganharam mais de um poema para o seu ressignificado, enquanto que os outros recebem apenas um poema. Um livro curto, leve e que pode ser lido em um dia. Eu, particularmente, preferi ler um poema-verbete por dia para alongar ao máximo a leveza que o livro me trouxe. Indico para todos que gostam de poesia e buscam um novo olhar para o cotidiano que está a sua volta.

Resenha: Ciranda da Mulheres Sábias, de Clarissa Pinkola Estés

Assim como Mulheres que Correm com Lobos, que foi minha primeira resenha desde que iniciei esse quadro, A Ciranda das Mulheres Sábias foi um livro que me abraçou profundamente a cada página, cada história contada, verso cantado e prece proclamada. Sim, preces. Clarissa é poeta, psicanalista junguiana e PhD em tratamentos pós traumáticos pela Union Institute & University. Em seus textos e pesquisas, Clarissa foca na interpretação do inconsciente através da análise de arquétipos presentes em diversos mitos e histórias, especialmente dos povos ameríndios e mexicas/astecas, que são suas origens familiares. Em A Ciranda das Mulheres Sábias – Ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem, Clarissa trata do arquétipo da Velha Sábia e suas mais variadas aparições, apresentando um pouco das suas histórias e memórias familiares. O diálogo entre suas lembranças sobre as mulheres com as quais conviveu durante a infância e o arquétipo apresentado mostra ao leitor que a Velha Sábia não tem idade, rosto nem nacionalidade, mas está dentro de qualquer mulher e se manifesta das mais diversas formas, desde que tenha espaço para tal. A Velha Sábia é um caldeirão de misturas que vai desde a simplicidade da anciã até a vivacidade da jovem, passando por momentos de calmaria e firmeza que se apresentam em seu momento oportuno. É essa multiplicidade — por vezes denominada selvagem, em oposição à submissão esperada da mulher em qualquer idade e por qualquer motivo — que, quando admitida e acolhida pela própria mulher sobre si mesma, movimenta seu fluxo de vivacidade apesar da avançada idade, quando se espera que ele esteja como um rio seco, e traz centramento e racionalidade à juventude terna que, por muitos, também é vista como tola. Ao fim do livro, a autora apresenta nove preces dedicadas às “Velhas perigosas e suas filhas sábias e indomáveis”. São preces curtas, profundas e que falam de amor, união, descobrimento e crescimento dessas mulheres dentro de si mesmas e umas com as outras. O mantra que permeia toda obra “Quando uma pessoa vive de verdade, todos os outros também vivem” encerra o livro e introduz uma biografia poética da autora nas últimas páginas. Terminei esse livro com uma sensação bem parecida com a qual terminei o Mulheres que correm com lobos: como se houvesse uma figura feminina segurando a minha mão. No Mulheres foi como a figura de uma irmã, uma irmã mais velha que sabia tudo o que eu pensava porque até pouco tempo tinha as mesmas questões. Em Ciranda das Mulheres Sábias foi como ter todas as mulheres que vieram antes de mim, de ventre em ventre, segurando as mãos umas das outras até chegar em mim, que decidi segurar firme na mão delas e nunca soltar. Indico esse livro para todas as mulheres que estão se reconhecendo no caminho das sábias ou que já trilharam boa parte dele. Que entenderam ou buscam entender que tudo começa e termina dentro da gente, mas cada parto que a gente faz — de ideias, de nós mesmas, de outras mulheres — passa para frente um pouco do que carregamos dentro nós.

Resenha: Educação em Língua Materna, de Stella Maris

(Resenha de 2020) Esse mês de Outubro é comemorado o Dia do Professor no Brasil, e como professora eu não poderia deixar um mês tão especial como esse passar em branco 👩‍🏫♥️Para comemorar, irei resenhar TRÊS livros específicos para esses profissionais e convido todos, mesmo quem não segue a carreira do magistério, a conhecer um pouco mais sobre os estudos e criações (sim, teremos um livro não teórico) dessa área. Educação em Língua Materna é um livro dividido em 8 capítulos + Sugestões de Leitura + Índice Remissivo que trata do ensino da língua portuguesa no Brasil ao lado do nosso “falar brasileiro”.A sociolinguística é um estudo que analisa o fenômeno da língua —fenômeno porque a língua é viva— na sociedade. Analisa, por exemplo, como a língua é usada em cada situação social, a variação regional, a diferença entre os falantes com educação formal (escola) e informal (apenas ouvindo e reproduzindo a linguagem do seu meio social) e a influência de todas essas diferenças no uso da língua pelos falantes.Nesse livro, Stella Maris faz um compilado de conhecimentos linguísticos e sociolinguísticos da língua portuguesa, mas sempre se preocupando em deixar claro cada conceito que é abordado, refletindo sobre uma maneira mais consciente do ensino de língua.E se engana quem acredita que os conceitos apresentados servem apenas para o ensino de português/língua materna. A visão língua+sociedade é essencial para o ensino de qualquer idioma, pois sem sociedade não existe língua, e esta precisa também servir à sociedade que a utiliza, por isso sempre sofre alterações como a criação de novas palavras ou palavras que caem em desuso.O livro tem por volta de 100 páginas, com letras grandes e linguagem fluída. Além disso, tem também algumas atividades com passo a passo para serem feitas em sala de aula.Seja um professor de língua ou um curioso, pode ler sem medo que a mensagem principal você vai entender: língua e sociedade andam lado a lado. 🤝

Resenha: Paulo Freire – Pedagogia da Autonomia

“Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem.” Página 29. Pedagogia da Autonomia foi minha primeira leitura de um livro inteiro do Paulo Freire. Já tive contato com suas obras antes, por conta da faculdade, mas apenas capítulos soltos para estudar algo mais pontual.O pernambucano Paulo Freire (1921-1997) foi formado primeiramente em direito, tornando-se, ao longo de sua vida, professor de Língua Portuguesa, Filosofia, História da Educação. Em seu exílio durante a ditadura militar no Brasil, Freire chegou a lecionar em Harvard, foi consultor do Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas em Genebra, além de percorrer diversos países auxiliando nos planos educacionais. Ele também foi o criador de um método inovador de alfabetização para adultos. É considerado até hoje um dos grandes pensadores da história da pedagogia mundial e patrono da educação brasileira.Em Pedagogia da Autonomia, Freire aborda a relação entre educadores e educandos, enfatizando a necessidade da aproximação desses dois universos. Para ele, é indispensável que a educação em sala de aula dialogue com a realidade de mundo do aluno a fim de fazer com que ele enxergue sua realidade — e qualquer outra diferente da sua — com um olhar mais crítico, entendendo que nada é tão simples quanto parece. Avesso à educação bancária e aos fatalismos, Freire afirma que para a educação ser transformadora é necessário que o professor transforme também a si mesmo, visto que não se pode exigir do aluno compreensões que também não apresentamos. Ele reforça a visão de que ensinar e aprender são ações complementares e não opostas, e que sem a participação autônoma do aluno durante o processo de aprendizado não há construção de novos saberes — que é um dos principais objetivos da educação libertadora — apenas a reprodução de saberes fatidicamente repetidos.O livro é dividido em 3 capítulos + prefácio, com algumas referências de outras obras ao longo do livro, mas todas organizadas em notas no final de cada capítulo. Freire faz também referência a outras de suas obras, como a Pedagogia do Oprimido, uma outra obra dele muito famosa. Além disso, o livro também apresenta exemplos de práticas pedagógicas para ajudar o professor a refletir melhor sobre suas próprias práticas.Existe ainda a ideia de que apenas estudantes de pedagogia devem ler sobre pedagogia, mas, ao meu ver, o estudo de pedagogia é essencial para qualquer professor, independente do conteúdo ou nível escolar em que trabalhe — ou mesmo se trabalha em escola.Indico a leitura desse livro a todos os meus colegas de profissão, independente de suas formações ou seu público de sala de aula. 

Resenha: Ensinando a Transgredir, de bell hooks

(Resenha 2020) Eis aqui a terceira resenha desse mês tão especial👩‍🏫♥️ Em Ensinando a Transgredir, bell hooks tem como foco principal as salas de aula universitárias, mas isso não impede que suas observações também sejam aplicadas em qualquer outro ambiente de ensino. Ela aborda o uso de uma pedagogia crítica na sala de aula e a necessidade de trazermos o corpo para a presença em sala junto com a mente. Em seu ponto de vista, o professor não deve ensinar as teorias libertadoras como se fossem apenas textos bonitos, ele precisa vivê-las. A autora enfatiza tanto a necessidade de se colocar em prática as teorias pedagógicas ensinadas que chama essa prática de Pedagogia Engajada: o ato de praticar o que se ensina.Bell ressalta a importância do aprendizado mútuo e de reconhecermos que as nossas bagagens de vida e as dos alunos entram na sala de aula. Não existem “recipientes” vazios que precisam ser preenchidos com uma sabedoria absoluta, existem seres humanos com maior ou menor grau de conhecimento teórico sobre determinado assunto e que trabalham seus conhecimentos e estudos através de práticas pedagógicas construtivas para a criação de um bom senso crítico e reflexivo, e é na ativação dessa capacidade que temos a pedagogia libertadora em prática. Além disso, bell também aborda a importância do professor ensinar tendo prazer pelo processo e desconstrói a figura mitológica de Eros, relacionando-a com o prazer pelo aprender e ensinar.Unindo a pedagogia libertadora com os conceitos de mestre e aprendiz narrados pelo monge budista Thich Nhat Hanh e sua própria trajetória no feminismo negro, bell hooks narra suas experiências de vida, acadêmicas e de magistério mostrando na prática que desconstruir é possível e praticar novas teorias é necessário.