Quantos de nós já não ouvimos ou dissemos a frase “Não se deve generalizar”? E quantos de nós já não julgamos ou fomos julgados de forma errada por causa de generalizações? De fato, deixar de generalizar é algo bem difícil, mas quando julgamos ou “condenamos” alguém que mal conhecemos, isso diz muito mais sobre nós do que sobre a outra pessoa.
Generalizando…
Para começar, vamos refletir juntos sobre o porquê das generalizações acontecerem e serem tão comuns. É muito mais fácil espalhar um conhecimento genérico sobre algo do que estudos específicos, por exemplo, ou reflexões mais profundas. É muito mais fácil viralizar uma imagem explicando algo em 3 palavras ou um vídeo de 30 segundos do que uma postagem de um blog, um artigo de revista ou de jornal. Da mesma forma como é muito mais fácil para o nosso cérebro dar uma “resposta” sobre quem uma pessoa é ou deixa de ser com base em como a gente associa a imagem dessa pessoa à imagem de outras pessoas que já vimos/ouvimos/convivemos. Digo mais fácil até mecanicamente, pois menos conexões neurais são ativadas quando repetimos um padrão de pensamento do que quando criamos um pensamento novo.
“Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo”
Essa frase eu já usei uma outra vez, nesse post para falar sobre coerência, mas cabe também aqui. Generalizar não é o maior dos perigos, até porque qualquer generalização pode ser resolvida com uma boa dose de autorreflexão. O problema maior é quando atribuímos à um(a) desconhecido(a) ou uma pessoa conhecida mas não tão bem assim uma carga de impressões pessoais nossas, frutos dos mais variados conflitos e limites que temos dentro de nós, que não tem absolutamente nada a ver com essa pessoa. E, no nosso íntimo, sabemos que não tem absolutamente nada a ver com a pessoa pelo simples fato de não a conhecermos o suficiente para tirar algum tipo de conclusão sobre ela. E sabemos também todos os medos, inseguranças, conflitos, traumas e memórias que carregamos e há quanto tempo as carregamos, mas escolhemos fechar os olhos para isso tudo, generalizar e julgar/condenar o outro na expectativa de nos sentirmos um pouco melhores com nós mesmos. Só que o fardo das nossas dores não diminui quando aumentamos a dor do próximo, nem nos tornamos pessoas melhores porque apontamos o defeito de alguém.
Nossos atos mostram quem nós somos, os atos do outro mostram quem ele é. Se temos alguma necessidade em promovermos nossas qualidades às custas de diminuir as qualidades do outro ou mesmo de exaltar seus defeitos e limitações, então não nos sentimos tão dignos de elogios como forçamos parecer.
Honestidade
Não é apontando dedos para fora que vamos resolver os problemas que temos do lado de dentro. Se você tem como hábito julgar ou condenar e está acostumado(a) que façam isso com você também, sugiro que busque repensar esse padrão de relacionamento que você cultiva com as pessoas a sua volta. Não é saudável mentalmente, emocionalmente nem fisicamente nutrir comportamentos tóxicos em relacionamentos, nem mesmo no seu relacionamento consigo mesmo. Repense suas relações sociais e familiares, suas atitudes, reveja seus medos e crenças, procure a ajuda de um profissional da área de psicologia ou terapeuta holístico se for necessário, mas interrompa esse ciclo vicioso de críticas e julgamentos. Palavras podem fazer tão mal quanto algum alimento que comemos.
Seja honesto consigo mesmo sobre suas inseguranças. Medos, incertezas, frustrações e outros sentimentos semelhantes quando mal trabalhados resultam em projeções doídas e em sofrimento muito maior para quem projeta do que para o alvo das projeções. O alvo sofre na hora, talvez um pouco depois, mas ele pode simplesmente se afastar e se recuperar, já quem projeta seus sentimentos de forma tóxica convive com o “material” criador desse sofrimento o tempo inteiro. A honestidade consigo mesmo sobre si mesmo é essencial para iniciar o processo de cura necessário para o fim desse tipo de comportamento.
A terapia é uma das formas mais indicadas para lidarmos com nossas questões internas, até porque a maior parte delas está no nosso inconsciente e a mediação de um profissional para construir uma ponte de diálogo entre suas crenças inconscientes e suas atitudes costuma ser mais eficaz. Ninguém precisa enfrentar seus medos sozinho, por menores que sejam. Não subestime suas necessidades e busque ajuda, pois machucar outras pessoas não fará sua feria parar de sangrar.
