Assim como Mulheres que Correm com Lobos, que foi minha primeira resenha desde que iniciei esse quadro, A Ciranda das Mulheres Sábias foi um livro que me abraçou profundamente a cada página, cada história contada, verso cantado e prece proclamada. Sim, preces.

Clarissa é poeta, psicanalista junguiana e PhD em tratamentos pós traumáticos pela Union Institute & University. Em seus textos e pesquisas, Clarissa foca na interpretação do inconsciente através da análise de arquétipos presentes em diversos mitos e histórias, especialmente dos povos ameríndios e mexicas/astecas, que são suas origens familiares.

Em A Ciranda das Mulheres Sábias – Ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem, Clarissa trata do arquétipo da Velha Sábia e suas mais variadas aparições, apresentando um pouco das suas histórias e memórias familiares. O diálogo entre suas lembranças sobre as mulheres com as quais conviveu durante a infância e o arquétipo apresentado mostra ao leitor que a Velha Sábia não tem idade, rosto nem nacionalidade, mas está dentro de qualquer mulher e se manifesta das mais diversas formas, desde que tenha espaço para tal.

A Velha Sábia é um caldeirão de misturas que vai desde a simplicidade da anciã até a vivacidade da jovem, passando por momentos de calmaria e firmeza que se apresentam em seu momento oportuno. É essa multiplicidade — por vezes denominada selvagem, em oposição à submissão esperada da mulher em qualquer idade e por qualquer motivo — que, quando admitida e acolhida pela própria mulher sobre si mesma, movimenta seu fluxo de vivacidade apesar da avançada idade, quando se espera que ele esteja como um rio seco, e traz centramento e racionalidade à juventude terna que, por muitos, também é vista como tola.

Ao fim do livro, a autora apresenta nove preces dedicadas às “Velhas perigosas e suas filhas sábias e indomáveis”. São preces curtas, profundas e que falam de amor, união, descobrimento e crescimento dessas mulheres dentro de si mesmas e umas com as outras. O mantra que permeia toda obra “Quando uma pessoa vive de verdade, todos os outros também vivem” encerra o livro e introduz uma biografia poética da autora nas últimas páginas.

Terminei esse livro com uma sensação bem parecida com a qual terminei o Mulheres que correm com lobos: como se houvesse uma figura feminina segurando a minha mão. No Mulheres foi como a figura de uma irmã, uma irmã mais velha que sabia tudo o que eu pensava porque até pouco tempo tinha as mesmas questões. Em Ciranda das Mulheres Sábias foi como ter todas as mulheres que vieram antes de mim, de ventre em ventre, segurando as mãos umas das outras até chegar em mim, que decidi segurar firme na mão delas e nunca soltar.

Indico esse livro para todas as mulheres que estão se reconhecendo no caminho das sábias ou que já trilharam boa parte dele. Que entenderam ou buscam entender que tudo começa e termina dentro da gente, mas cada parto que a gente faz — de ideias, de nós mesmas, de outras mulheres — passa para frente um pouco do que carregamos dentro nós.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *